Afrodescendência: Política e Assunção
A afrodescendência diz
respeito à ligação que certas pessoas de um determinado lugar têm ao menos com
um dos povos, existentes ou extintos, do continente africano. Esta ligação tem
critérios bem definidos e basicamente são dois: características corporais ou
étnicas. As primeiras são involuntárias e tem a ver com o gene (determinação da
natureza), a outra é voluntária e tem a ver com escolha (existência: liberdade
humana).
A escolha gera atitude política afrodescendente que,
inicialmente, é o autorreconhecimento da pessoa afrodescendente a partir dos
dois critérios já mencionados. O primeiro diz respeito à autoaceitação da cor
da pele, do cabelo crespo (a mais das vezes), dos lábios carnudos, etc., o
segundo é a consideração por uma afro-cultura e sua iniciação (ou manutenção)
nela. Portanto, atitude política afrodescendente, também chamada de
empoderamento, é pensar e agir
valorizando os caracteres corporais e/ou étnicos afrodescendentes.
Tal atitude é um apelo
e um cultivo constante do amor próprio e da exigência do respeito dos outros. Essa
exigência não é apenas impositiva, pode se dá pela via da conscientização
desconstruindo valores e expondo sua própria realidade. Por isso da importância
da assunção, como atitude de assumir suas características corporais (se amar,
se admirar, se respeitar) ou seus elementos étnicos (ter respeito pela estética
do grupo do qual faz parte), pois, sabe-se que “a roupa faz o monge”.
Esse adágio é a
expressão da necessidade que as pessoas têm de serem informadas através de
signos de identidade do grupo do qual o outro é integrante. Assim, graças à
linguagem não-verbal, expressa-se por meio do corpo, que é fonte de informações
das ideias e das produções culturais do grupo. Pois, qual imagem se tem de uma
indiana, de uma mulçumana, de um árabe, de um sertanejo, de uma baiana, de um
hippie, dos góticos, dos punks, dos clubbers, dos ciganos? Observe a intenção
dos uniformes escolares, de times, dos militares, de organizações, dos
paramentos religiosos, de um modo geral, todos prezam pela identidade e
divulgação. Assim, quando se pretende propagar um evento se confecciona uma
indumentária com seus signos, no entanto, efemeramente se cai no esquecimento.
Além do mais, vive-se
em uma época cuja diluição da identidade de grupo é facilitada a reduzir-se ao
nada, ao desaparecimento em meio a uma uniformização geral presentes nas
T-shirts, ternos e similares. Uma pseudo ideia de igualdade (no trajar-se) é a
lei que separa o mundo entre comuns e as lideranças. Portanto, fast foods,
roupas prontas, jamais devem substituir sua culinária, seu fio de conta, seu
torço, seus balangandãs, abadás (este já teve sua nova versão corrompida pelo
carnaval), eketé, camisu, etc.
Será que atitude política não é um exercício de
cidadania: ou você expõe sua proposta e luta por ela (quando necessário) ou,
por omissão, terá de assumir a forma dos outros? Iniciados, por que só trajar a
roupa da sua cultura apenas em eventos específicos? Essa atitude não demonstra
vergonha, medo, reprovação? Não indica desrespeito consigo mesmo e sujeição? Como
exigir respeito se não o tem por si mesmo? Estaria despolitizado e desmerecendo
a afrodescendência? Será que você ao recuar, está tendo o controle de sua vida?
Deixar a cultura ser exterminada sob a desculpa de ser ultrapassada?
HÙNNÓ-SERAFIM. Afrodescendência: Política e Assunção. Disponível em: <https://outrafonte.com/2020/04/04/afrodescendencia-politica-e-assuncao-por-hunno-serafim/>. Acesso em: 04 Abr. 2020.

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