sexta-feira, 1 de maio de 2020


Afrodescendência: Escola, trabalho e vida


A Afrodescendência, como cultura raiz, é o cultivo da ancestralidade. Neste termo, se inclui todo o conjunto de valor assentado nos princípios comunitário, familiar, recíproco, fraterno, de povo. Ancestralidade diz respeito ao modus vivendi mais genuíno que se possa alcançar e de seu desprezo pela exploração do trabalho (exclusiva geração de lucro a qualquer custo). Apesar da ligação com famílias reais, a afrodescendência não deve ser identificada com fatos nos quais dadas circunstâncias a registra como colaboradora de certas exigências desviando-se de seus valores primordiais (participação no processo de regime escravagista intercontinental, por exemplo). Pois, agir isento de liberdade é ser coagido e, portanto, se é absolvido.

Há que se entender que o trabalho deve ser sempre uma atividade consciente: executada compreendendo o processo em sua finalidade. Isso evita a auto-escravização como também a posse do patrão sobre a vida do trabalhador. O nosso sistema escolar que deveria ter esse entendimento como imperativo, ao contrário, a mais das vezes, domestica favorecendo a auto-escravização, além de fomentar que isso é um benefício, pois será que é dever dos discentes levarem para casa diariamente tarefas escolares? É prática comum docentes passarem tarefas para feriadão, fim de semana, etc. será que isso seria correto? Não se estaria fomentando um princípio capitalista? Será que não se está superestimando a vida de estudos e incutindo o desprezo aos outros momentos da vida como o lazer? Será que analogamente não se incute a ideia de que se deva continuar as tarefas do trabalho em casa? Quantas pessoas além de exercer suas atividades laborais no espaço para esse fim ainda o faz no recinto do lar?

Sabe-se que há muitas situações que se deve sacrificar determinadas atividades para o cumprimento de prazos. Mas, o critério justo não seria mediante pacto? Ou quando o sujeito deliberadamente o faz em uma eventualidade nunca rotineiramente? Lembro-me de um dizer de uma tia-avó materna minha, ao me ver estudando aos Domingos: “É pecado estudar no Domingo!” e quando eu a perguntava o porquê, ela respondia: “Porque é dia de descanso!” A compreensão de uma simples mulher do campo, destituída de qualquer grau escolar a fazia mais consciente do que alienada, como é o caso de muitas pessoas “estudadas” que tudo sacrificam pelo lucro do trabalho.

Há várias situações nas quais os pais só enfocam na vida de estudos do filho. Estaria essa redução anulando outras dimensões da existência? Será que o filho não se encontra perdido, abandonado, vulnerável? Será que não se está gerando uma sociedade frustrada e com excelente formação escolar (não cognitiva, mas no sentido de uma exímia mão-de-obra técnica isenta de crítica)? A educação escolar tem um escopo holístico? Duvido! Pois, é comum encontrar muitos bons profissionais sem valores solidários, cosmopolitas e empáticos. Quais os prejuízos ligados à maturidade? Será que se sabe o quão valiosa ela é? O que é maturidade? Será ela uma preocupação dos sistemas educacionais? Será que uma educação que enfoca exclusivamente no domínio tecnocientífico igualmente forma o sujeito?

Essa questão é bem oportuna ao ver pessoas negras advogando a ideia de que há outras pessoas negras se vitimizando, isso atesta ou sua ignorância histórica (cognição) ou seu oportunismo (moral) ou ambas. Só quem nunca viu uma favela, a ignorância de sua formação e falta de curiosidade de saber suas origens e existência é que pode ter atitudes tão bestiais. De outro modo, nem sabe o que é vitimização, algo que para uma mente confusa resistência pode ser a isso reduzida.

Por fim, há pessoas que se esforçam para ter sua casa, por exemplo, mas ao consegui-la a torna dormitório: vive-se no trabalho e visita-se a casa. Se a casa é dormitório, conquistar um lar talvez seja algo metafísico. O diretor David Frankel nos presenteou com o filme O Diabo Veste Prada (2006). Essa obra ajuda a entender que a cultura da nossa vida, da nossa existência nunca deve perder de vista quem se é todos os dias. Deixar para segundo plano as outras dimensões da vida e priorizar somente o trabalho é uma forma inconsciente de se deferir à escravidão laboral. Portanto, abaixo a frase: “minha diversão é o trabalho”, pois esta é indiscutivelmente a coroação da ruína da própria vida. O imperativo categórico da vida é sempre “Carpe diem”!

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