quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Meus Escritos

1. Um reduto filosófico na afrodescendência: a ancestralidade. In: ARAGÃO, Patrícia Cristina de; SILVA, Alcione Ferreira da. (Org.). Diversidades, Culturas, Educação e Re-existências: construindo o mundo que virá. 1ed.São Paulo: Mentes Abertas, 2023, v. 1, p. 234-251.

DISPONÍVEL: https://drive.google.com/file/d/1-9DhPimA7HZBa2yFrPRVFcykdG_2qjdT/view 


2. Filosofar – Sentir e Pensar o Mundo – O Ressonante Trânsito da Existência. In: ARAGÃO, Patrícia Cristina de; ANDRADE, Francisco Ari; NASCIMENTO, Robéria Nádia Araújo; NASCIMENTO, Regina Coeli do (Org.). Formação Docente e Território de Saberes em Diálogos Interculturais. 1 ed. São Paulo: Mentes Abertas, 2024, v. 1, p. 170-183. 

DISPONÍVEL AQUI: https://drive.google.com/file/d/1j3EPwIAwTG5cbHGv4QC7qncb0O_pg1NK/view


3. ANIMISMO, RELIGIÃO E MUNDO: questões de filosofia da natureza em perspectiva, a meditação e a complexidade existencial. In: ARAGÃO, Patrícia Cristina de; SILVA, Alcione Ferreira da; SANTOSRosa Maria Dias da Costa; DIAS, Fiama de Castro Azevedo; NEVES, Gildivan Francisco das. (Org.). Gênero, raça, anticapacitismo e interseccionalidades. 1ed.São Paulo: Mentes Abertas, 2024, v. 1, p. 207-222. 

DISPONÍVEL: <https://drive.google.com/file/d/1TXp_RZKv_NDSCxKjDVY2bclfJcNoRDRD/view>.


4. Do Influxo Filosófico na Educação Contemporânea: A Inclusão como Manifestação Democrática. REVISTA EDUCAÇÃO INCLUSÃO - REIN, v. 9, p. 16-181, 2024.

DISPONÍVEL: https://revista.uepb.edu.br/REIN/article/view/3597/2684

5. Um Diálogo Ontológico: em Perspectiva, a Transpersonalidade Manifesta na Educação. 

In: Saberes Fronteiriços na Sociodiversidade: Novos Modos de Educar. São Paulo Mentes Abertas, 2025.p.180-195.

DISPONÍVEL: <https://www.academia.edu/144362392/e_Book_Saberes_fronteiri%C3%A7os_na_sociodiversidade_novos_modos_de_educar>.

quarta-feira, 27 de março de 2024

 
Crítica Literária
 



Da Obra Meu Desabafo

 

Runon Serafim[1]

 

“Eu pensei: minha vida vai mudar!”[2]

 

Os antigos gregos chamavam thaumazein (θαυμάζειν) fenômenos sublimes e importantes. Os latinos o traduziram por admirāri legando aos falantes da língua portuguesa e expresso como admiração, cuja experiência e ser tomado pela surpresa do olhar que contempla minuciosamente envolvendo seu espectador num êxtase jamais vivido e repetido: o maravilhamento. Assim são as obras inéditas: arrebatadoras, extraordinárias, porque rompem com o status quo, propondo um compromisso avaliador do mundo e reivindicando um outro ainda melhor, no qual a diferença não e impedida de ser admirada e enaltecida, ao contrário, e fomentada.

 

Da obra, Meu Desabafo, infinitas leituras são possíveis graças a profundidade de sua organização. Ela e in limine um testamento no qual muitas vidas estão imbricadas. Um registro histórico pontualmente do habitat guarabirense se estendendo aos limites deste Estado, por fim, confundindo-se com o acervo nacional. E ainda, um convite a pensar sobre a vida ensejado pelos motes dos aspectos sociais e econômicos e proporcionando uma meditação acerca da empatia, da reciprocidade do cuidado, da caridade.

 

O idealizador da obra e um incansável homem, caucasiano, europeu – na verdade, mais brasileiro que muitos – e fundador de uma instituição cuja missão e salvaguardar a vida. Sua dedicação revela que ser humano e fazer coincidir o oficio da liberdade no seu modo de ser e instilá-lo. Some-se a isso, a demonstração de que ser humano, mesmo, e não ter pátria ou qualquer outro rotulo, mas, e estar entre seus semelhantes perseguindo a garantia das vidas em assunção do lugar no qual se encontra considerando-o como lar. E, nessa sensibilidade, foi capaz de atender, uma vez mais, ao apelo de ser Pai de muitos, além daquele já garantido pelo sim a sua vocação religiosa, que, ora faz confundir paroquianos e amecianos, descendentes da AMECC, e seus adjutores.

 

Como se sabe, a esperança do mundo e dos humanos reside nas palavras aliadas a ações. Falatório, retorica e jogos de linguagens são fugas, recursos menosprezantes e desprezíveis. Pois, a palavra, por si só, goza de uma forca muito própria e estupenda, ela inter-rompe, porque e autentica. E é nesta inter-ferência que se dá a criação, o novo ganha vida! Com efeito, o silencio ou outro discurso foi quebrado, em prol daquela palavra que e a fala da realidade se manifestando através de alguém, seu mensageiro. Assim como a palavra se apropria de outro recurso, escrever e uma solução habilidosa e cortes de inscrever-se no seio dos outros e assegurar sua existência no mundo, pondo ambos sob um influxo. Neste lastro, afinados estão Carolina Maria de Jesus (1914-1977), Deodato e tanto outros Cíceros em suas escrevivências.

 

Meu Desabafo e uma obra polissêmica que reúne diferentes vozes comunicando através de imagens e escritos existências singulares que, em conjunto, são um projeto de mundo civilizadamente caritativo, contendo todos os fatos sofridos e silenciados, porém, agora, igualmente, expostos fitando o seu êxito com base na experiencia filantrópica. Meu Desabafo e uma lição ambígua que, por um lado, e uma coleção de relatos evidentes de uma realidade dura e cruel de denegação e o tolhimento de vez e voz, por outro, e o meio pelo qual a ressonância da fala desses autores nunca foi silenciada, posto que, aguardava sua amplificação para ser ouvida e descoberta por aqueles que, a essas vozes, se juntam em uníssono. Ratifique-se que abafar a fala, calar a boca à revelia, não permitir dizer e inumano.

 

Felizmente há outros meios de exprimir as necessidades, de narrar o que se sente, de dizer o que se pensa, de declarar sonhos. E Cicero o fez muito bem! Uma vez que, alçou mãos da pintura e da escrita. Estas revelam muito do mundo daquele jovem, a começar pela relação etária e a simplicidade do uso da linguagem evidenciando sua pouca escolaridade, uma flagrante ausência de políticas públicas ou de sua inexpressiva ingerência, sobretudo, para jovens, os quais, esse estado de coisas, só ampliam a vulnerabilidade. Não obstante, ressalte-se, neste jovem, sua postura corajosa e firme transcendendo todas as condições mortificantes pela fé na esperança.

 

Na figura de Deodato está contemplada a população negra deste pais, vítima de uma herança colonial resistente e, agora, vacilante; mas, acima de tudo, um contributo desumano e caduco. A expressão Deodato configura franco exemplo de cultura solidaria visando o bem comum e ate mesmo o Sumo Bem, manifesta na conquista do Conselho Municipal de Crianças e Adolescentes de Guarabira, na aplicação da Teologia a vida cotidiana como uma liturgia atuante e na instituição da Associação Menores com Cristo (AMECC). Assim, a profecia de Deodato na epigrafe se consolidou, ao passar de um cárcere frio na experiência dos abandonos e ao “refugio” da rua, dos desafetos familiares, da ausência de um lar e do cárcere literal a liberdade concretizada no abrigo PADRE-AMECC.

 

Nesses passos, fica fácil de compreender que a vida de alguém sempre está enredada a outras, logo a decisão de um afeta possivelmente tantas outras. Foi o caso da existência Deodato que suscitou e promanou a resposta AMECC no seio de seu fundador, que ao abraçar a ideia, não se deu conta que sua lida o conduziria ao cultivo de vidas que se entrelaçariam para sempre a sua própria. À medida que tudo isso ganhava folego, se nota que se requisita, constantemente, um solo fértil, autossuficiente e muitas vezes só na companhia do invisível (planos) e de sua fé, a fim de dar conta de sua seara. Portanto, um Novo Dom Bosco, por assim dizer, entra em cena. Sem comparações, pois, todos são singulares, porém, uma ilustração melhora nossa compreensão.

 

Ainda no tocante a Deodato, ele e aquela porta que permite a sua localidade a pensar sobre questões de justiça social, dignidade humana, vivencia real de princípios éticos e religiosos, em suma, arriscar-se na investida da complexidade humana, tanto na busca pela sua compreensão, quanto no apoio necessário a sua realização (a própria e a dos outros). Com efeito, Cicero Deodato se revela como “o homem, determinado pela vontade de marcar no mundo exterior o cunho do seu espirito para nele se reconhecer, busca exprimir sensivelmente numa forma adequada a universalidade que concebe, a liberdade que aspira, a infinitude que o constitui”[3]

 

Os percalços pelos quais passou, os quais jamais mencionou em público, levando consigo para sempre, podem ser encontrados aí em suas obras ao modo de palimpsesto e pentimento por especialistas e estudiosos que nelas se debruçarem. Vencer o senso comum que se atem as suas ações reprováveis e restituir a tais episódios o seu teor, qual seja, indicio de uma existência em desespero provocada pela violência infringida a ele suscitada pela hostilidade generalizada e frequente de seu ambiente, em suma, ausência de bem-estar.

 

Este discurso segue num tom elogioso ao Padre, sem qualquer gratuidade, pois devotar a vida a causa publica, embora seja nosso pendor natural e garantia mutua, e tarefa árdua e um horizonte de expectativas que não admitem falhas, sob pena de desmoronamento do projeto. Portanto, requer alimenta-lo diariamente, que se confirma por uma vida dedicada ao seu serviço. Além dele constituir um dos elementos históricos de Guarabira, pois, suas ações reconduziram o ordenamento daquele lugar e inexiste possibilidade de dissociar as existências Deodato e Pe. Geraldo, uma vez que, já perfazem as faces de uma única moeda.

 

E chegando ao fim dessa laudação acerca dos frutos de trabalhos alcançados, acrescer um motivo, a saber, o silencio também e um sentir-se leve e nesta quietude encontrar o azo da palavra: aquele apelo que somente pode ser escutado mediante a calmaria, aquele sentido que demanda a vida. Uma experiência bem expressa neste trecho: “Silencio. Maravilhar-se, refletir e agradecer com confiança, essa e provavelmente a melhor resposta a vida de Cicero, que se manifesta a todos nos em seu diário e em seus desenhos”[4]

 

Será que Meu Desabafo figurara como mera obra de enfeite numa estante? Será ela relegada ao esquecimento ou figurara como um ponto de partida para admissão de erros, omissões e evidenciação de responsáveis? Será que a obra em questão não e uma proposta a superação de descasos de fatos inspirando sua identificação e cuidando para combater casos de naturezas similares, e oxalá impedir semelhantes acontecimentos? Talvez ela possa ser comparada a Helen Keller (1880-1968), privada da visão e da audição e, mesmo assim, conseguiu, por intermédio da professora Anne Sullivan (1866-1936), se tornar uma celebre escritora e eximia conferencista.

 

Finalmente, talvez seja preciso retornar ao início, ao thaumazein (θαυμάζειν), assegurando-o como um eterno despertar para o mundo, este aí pertinho e circundante a ti, do qual provem tua nutrição, teu sustento, teu ambiente de vivencia, enfim, tua existência e, assim, poder ouvir o apelo do outro e se juntar a ele numa consonância, semelhante a voz de Cicero e a atitude do Pe. Geraldo, num doce e acolhedor “Confie em mim!”[5]

 

Cite 
SERAFIM, V.F.M. Da Obra Meu Desabafo - Crítica Literária. Disponível em:<https://zeniste.blogspot.com/2024/03/critica-literaria-da-obra-meu-desabafo.html?m=1>. Acesso em: Dia mês ano. 

[1] Nome social de Vicente Fagner Morais Serafim. Bacharel, licenciado e mestre em Filosofia pela UFPB, Doutorando em Metafísica (UERJ), Coordenador do Comitê da Consciência Negra Luíza Mahin de Guarabira (CCN), membro dos NEABI’s da UEPB Campus III e do IFPB Campus Guarabira e Sacerdote de Candomblé Jêje.

 [2] DEODATO, 2023, p. 200.

 [3] HEGEL, F. Vorsesungen über die Ästhetik I, Werke 13. Frankfurt am Main: Surhkamp, 1970 (p. 205).

 [4] BRANDSTETTER, 2023, p. 220.

 [5] DEODATO, 2023, p. 36

Texto para o evento de25 Mar. 2024

terça-feira, 13 de julho de 2021

 

Tereza de Benguela


JULHO DAS NOSSAS HEROÍNAS

Por Hùnnó Serafim

A história nacional, conforme Beatriz Nascimento (1942-1995), foi escrita omitindo os fatos culturais relacionados à população afrodescendente para além do episódio da escravidão, sem retratar a população indígena e romantizando o processo de colonização portuguesa.

Assim, é preciso, consoante Carolina de Jesus (1914-1997), refazer a história brasileira inserindo narrativas sobre essas existências, de acordo com seu pensamento: “Vou escrever um livro referente a favela. Hei de citar tudo que aqui se passa. E tudo que vocês me fazem. Eu quero escrever o livro, e vocês com estas cenas desagradáveis me fornece (sic) os argumentos.” Se tentaram aniquilar a existência dos heróis afrodescendentes, por meio do silenciamento, utilizando o extermínio de dados que assegurariam seu lugar na história, ação essa, cujo objetivo era evitar a inspiração de novos levantes, imagine o afro-heroísmo feminino em uma sociedade patriarcal.

Mulheres como Acotirene (séc. XVII), Aqualtune (séc. XVII), Dandara (?-1694), Zeferina (séc.XIX), Zacimba Gaba (séc. XVII-XVIII) e tantas outras grandes líderes foram excluídas dos registros oficiais com a finalidade de construir, no imaginário nacional, a figura de que as pessoas negras não só nasceram para ser escravas[1] como aceitavam, de bom grado, essa condição, sendo os episódios de insurreição divulgados como fatos isolados que não representavam uma ideia coletiva e, assim, nem eram ameaçadores. 

O Movimento Negro surgiu concomitantemente ao advento do sistema de escravidão transatlântico seguindo suas manifestações, objetivos específicos. Pois, ao se entender Movimento Negro como ato de resistência dessas pessoas contra a qualquer tipo de violência a elas dirigida, é possível elencar diferentes estratégias: fuga, luta, suicídio, envenenamento, abortamento, compra de alforrias, criação de instituições (como os quilombos, as irmandades e os Terreiros) e outras formas.

Frente a essas estratégias, estavam as mulheres, a exemplo das cinco líderes mencionadas acima no terceiro parágrafo e, aqui em relevo, algumas fundadoras de Terreiros como as africanas de distintas etnias: Ludovina Pessoa[2] (BA – séc. XIX), Tia Ignês Ifatinuké[3] (PE – séc. XIX), Ná Agontimé[4] (MA – séc. XVIII), Iyá Nassô[5] (BA – séc. XIX) Gaiaku Rosena[6] (séc. XIX), dentre outras lideranças. Com efeito, é preciso entender que os Terreiros são espaços concretizados das ideias afrodescendentes e, portanto, expressão de resistência e de preservação cultural. Nestes locais, restituem-se a configuração adaptada da organização dos grupos étnicos originais, sua cultura.

Outras mulheres, estas afro-brasileiras, merecem igual atenção nesse processo de resistência. São elas: Esperança Garcia (1751-?) primeira mulher advogada do Piauí, a paraibana Gertrudes Maria[7] (XIX) que lutou na justiça pelo seu direito de liberdade e de sua prole, a sambista Tia Ciata (1854-1924), Maria Firmina (1826-1917) escritora maranhense, a política Antonieta de Barros (1901-1952), a musicista Chiquinha Gonzaga (1847-1935), a sacerdotisa e musa Gaiaku Luíza (1909-2005) que inspirou Dorival Caymmi e Carmen Miranda descrita na música “O que que a baiana tem?” e Anastásia (1740-?) ícone de devoção popular brasileira. Essas mulheres atingiram outros espaços negados aos seres humanos descendentes de povos africanos. Ao mesmo tempo, garantiram a inserção da dignidade das pessoas afrodescendentes em outras instâncias da cultura nacional, desconstruíram preconceitos e alimentaram as bases da cultura brasileira a ponto de se constituírem referências na cultura nacional.

Por fim, mencione-se outras autoras de maestria e façanha em atos de liderança, é o caso de Maria Felipa (?-1873), Adelina (séc. XIX) – a Charuteira, Maria Aranha (1720-1780), Tia Simoa (séc. XIX), Tereza de Benguela (?-1770) “Em 1770, ela foi morta por soldados do Estado. Em sua homenagem, no dia 25 de julho se celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra no Brasil[8], Eva Maria de Bonsucesso (séc. XIX), Mariana Crioula (séc. XIX), Rainha Marta (séc. XIX), Mãe Stella (1925-2018), Luíza Mahin (séc. XIX) e aquela estrela que está entre nós, da qual ainda se pode desfrutar de sua singular riqueza cultural face a face: Lia de Itamaracá.   

Por todas essas e tantas outras heroínas que seguem ignoradas, como forma de reconhecimento das ações dessas mulheres, igualmente o fortalecimento da luta de tantas outras, especificamente contra a violência racista, e tendo a finalidade na construção de uma sociedade mais justa, foi sancionada a Lei 12.987/2014 que instituiu no Brasil o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

 

Vivaxé Tereza de Benguela! Vivaxé todas as nossas heroínas!

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 12.987, de julho de 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12987.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%2012.987%2C%20DE%202%20DE%20JUNHO%20DE%202014.&text=A%20PRESIDENTA%20DA%20REP%C3%9ABLICA%20Fa%C3%A7o,anualmente%2C%20em%2025%20de%20julho.&text=2%C2%BA%20Esta%20Lei%20entra%20em%20vigor%20na%20data%20de%20sua%20publica%C3%A7%C3%A3o.>. Acesso em: 13 Jul. 2021.

CÂMARAMUNICIPALDEVASSOURAS. Mariana Crioula. Disponível em: <https://rmirandas.wixsite.com/identidafrica/single-post/2018/11/10/Mariana-Crioula?_amp_>. Acesso em: 02 Jul. 2021.  

GONÇALVES, Patrícia. 17 mulheres negras que lutram contra a escravidão. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/17-mulheres-negras-brasileiras-que-lutaram-contra-escravidao/>. Acesso em: 02 Jul. 2021.

 IBIRAPITANGA. Três pontos de encontro entre mulheres negras e a história brasileira. Disponível em: <https://www.ibirapitanga.org.br/historias/mulheres-negras-e-historia-brasileira/>. Acesso em: 02 Jul. 2021.

JORNALCINCO. 18 Mulheres negras que lutram contra a escravidão. Disponível em: <https://jornalcinco.com.br/2019/03/mulheres-que-lutaram-escravidao/>. Acesso em: 02 Jul. 2021.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Negras e históricas: por que elas foram apagadas do livro da escola. Disponível em: <https://www.uol.com.br/universa/colunas/2021/04/24/negras-e-historicas-por-que-elas-foram-apagadas-dos-livros-da-escola.htm>. Acesso em: 02 Jul. 2021.

SPAGNA, Julia Di. 8 mulheres negras que fizeram história no Brasil. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/8-mulheres-negras-que-fizeram-historia-no-brasil/>. Acesso em: 02 Jul. 2021.   

Imagem 1: https://www.brasildefatomg.com.br/2019/07/25/editorial-or-um-brasil-de-terezas-de-benguela

Imagem 2:https://esma.tjpb.jus.br/noticias/2018/12/desembargador-marcos-cavalcanti-lancara-romance-historico-juridico-a-preta-gertrudes-dia-14-deste

[1] Substantivo mesmo, pois, o qualificador escravizado é uma correção atual

[2] Tinha ligação com os Terreiros: Bitedô (Roça de Cima), Sejá Undê e Bogun Cachoeira e Salvador (o último) – BA

[3] Fundadora do Terreiro do Sítio do Pai Adão no Recife

[4] Fundadora do Terreiro Casa das Minas em São Luís – MA

[5] Uma das fundadoras da Casa Branca situado em Salvador – BA

[6] Fundadora do Terreiro Kpodagbá (pron. Pódabá) Rio de Janeiro

[8] SPAGNA, Julia Di


Gertrudes Maria

 

Fig. 01

O FESTIVAL DA COLHEITA DO MILHO NO BRASIL E A INTERETNICIDADE

Por Hùnnó Serafim

As celebrações de colheitas são muito antigas e perduram em muitas culturas. Expressas de forma religiosa ou folclórica, o fato é que as manifestações culturais percebidas por meio de canto, danças, músicas, pinturas, indumentária, encenações, dentre outras, têm suas finalidades, dentre as quais: 1) a externação da alegria proveniente da obtenção dos frutos, após longo tempo de árduo trabalho (sentimento de gratidão) e 2) a comemoração de momentos semelhantes a esses de outras edições pretéritas e a saudade causada pela ausência de entes queridos pela distância ou falecidos.

É comum a rememoração da pobreza presente nas representações de roupas remendadas. Além do enaltecimento da simplicidade e retorno a um momento histórico transposto nos utensílios de cerâmicas (pote de água), madeira (colheres de pau), palhas (como abanos e peneiras), roupas de chita (estampas florais ou xadrez), alpercatas de couro, chapéus de palha, tranças, vestidos com babados, sardas e casa de taipa. 

Assim é o Festival do Milho no Brasil, sobretudo, na Região Nordeste. no qual foram preservadas distintas formas culturais que sugerem ser uma única expressão de origem genuína nacional. Porquanto, ser preciso que a diversão seja compreendida como uma representação de momentos históricos afins. Aleiar-se aos sentidos dessa rica manifestação, é correr o risco de acrescenta-lhe elementos que desvirtuariam a narrativa históricada noss identidade ao mergulhar na ignorância fatos que foram acumulados por circunstâncias históricas interligadas a tais processos. Então,

1) As Quadrilhas[1] (do francês, quadrille, dança de quatro casais) representam uma grande festa matrimonial, com imperativos franceses anarriê ( en arrière - para trás)[2], Changê (changer/changez – trocar/troquem o par)[3]alavantu ('en avant tous', para frente, prenuncia a coreografia e ordena os casais tomarem posição à frente, se aproximando uns dos outros para se cumprimentarem)[4], Cumprimento ‘vis-à-vis’ (cumprimento frente a frente)[5], Otrefoá (autre fois – repetir o passo anterior)[6] Balancê (balancer – balançar o corpo, marcando o passo, não saindo do lugar)[7]. É utilizado em forma de grito de incentivo “e é repetido quase todas as vezes que termina um passo. Quando um comando é dado só para os cavalheiros, as damas permanecem no Balancê. E vice-versa”)[8], Returnê (returner – retornar aos seus lugares)[9]. Tur (tour – Dar uma volta: o cavalheiro abraça com a mão direita a cintura da dama. Ela põe o braço esquerdo no ombro dele e fazem um giro completo à direita)[10].

2) Os Arraiás, uma variante do termo arraial, cujo significado é "de origem medieval proveniente da conjugação do árabe al com o qualificativo raial que evoluiu para real, ou seja, próprio do rei. Originalmente, era empregado para qualificar as áreas ocupadas transitoriamente pelas tropas do monarca e, como tal, eram consideradas propriedade real temporária. No período colonial, esse termo foi ressuscitado com o significado de terreno apossado em nome do rei, pelos reinóis, como os colonizadores gostavam de ser tratados" [11].

3) As fogueiras são indícios dos mais remotos tempos e modo simbólico de celebração, pois, ao seu redor clãs se reuniam “para agradecer pela fertilização da terra e pelas fartas colheitas”[12] se aquecer, contar história, cantar, dançar, se alimentar. Pois, o fogo tem uma forte representação para comunidades tradicionais, por causa de sua importância para vida e do aprendizado de sua obtenção. Este princípio ainda existe nos candomblés e posto pelo catolicismo como uma forma encontrada por Santa Isabel de avisar a sua prima, a mãe de Jesus, que ela dara à luz a São João, o Batista.

4) Os balões foram adicionado mais recentemente, se comparados em relação à fogueira por exemplo, significando o início da festa (atualmente são proibidos por lei os que usam fogo como motor).

5) As bandeiras servem de demarcação do espaço e do tempo festivo. Cumprem a finalidade decorativa significando que a determinado momento ali ocorrerá uma comemoração. Suas cores e formatos também comunicam pensamentos sendo compreendidos naquela circunstância.

6) Os Fogos de artifícios anunciam aos distantes por meio do som (num período mais antigo, quando inexistia o recurso luminoso deles) e da luz (mais recente) a festa. Ainda, revelam a alegria expressando gratidão, beleza e o domínio de sua obtenção pelos seres humanos.

7) A culinária apresenta a criatividade das várias possibilidades de se nutrir do milho desentediando o paladar através da oferta de vários sabores: cuscuz, canjica, pamonha, curau, polenta, milho assado, munguzá (nas versões, doce e salgado), pamonha assada, bolo de milho, farinha de milho, sorvete, pipoca, milho cozido, xerém, e tantas outras gostosuras nessa descrição, não contempladas.

A parte religiosa se alterna entre os elementos católicos e afrodescendentes. Naqueles por meio das novenas e dia dos santos: Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho), São Pedro e São Paulo (29 de junho) e Santa Ana (último sábado de julho). Os afrodescendentes sincretizaram suas comemorações vinculadas a algumas dessas datas. Assim, os Terreiros celebram a fogueira de Xangô (para os descendentes yorubás), Zázi (para os descendentes bantus) e Sobô (para os descendentes dos povos ajá, ewe e fon) com sua família (sua rainha Oyá e filhos: Loko, Badé e Avekête) além do seu clã.

As simpatias também têm seu lugar garantido. Para os religiosos, em largo sentido, são ritos que permitem previsões de participarem do festival do ano seguinte, de descobrir se casará, de começar um namoro e de assegurar a pessoa amada.

Frise-se também a existência da Rainha do Milho. Esta é um exemplo de mito, pois um ser feminino, representação da energia responsável pela fertilidade de todos os seres (sementes, terra, água e luz solar dentre outros) e fenômenos (chuva lavragem da terra, por exemplo) que concorreram para produção da colheita, explica e coroa o motivo da festa.

A partir do exposto, pode-se concluir que, no atinente ao nome da celebração, não é correto dizer festas juninas, primeiro porque se trata do festival da colheita do milho, depois porque ultrapassa o mês de junho. Nem é variante linguística do termo joanina para junina relativa a São João, pois, se trata de uma festa não católica, inclusive são comemorados outros santos pela própria igreja nesse mesmo período, além de ter as liturgias dos povos de terreiros concomitantes, conforme mencionado.

 



[1] https://francesobjetivo.com.br/quadrilha-tradicao-da-cultura-francesa/

[2] Ibdm.

[3] Ibdm.

[4] https://brainly.com.br/tarefa/28387729

[5] https://francesobjetivo.com.br/quadrilha-tradicao-da-cultura-francesa/

[6] Ibdm.

[7] Ibdm.

[8] Ibdm.

[9] Ibdm.

[10] Ibdm.

[11] http://lhs.unb.br/atlas/Arraial

[12] https://mundoeducacao.uol.com.br/festa-junina/simbolos-juninos.htm

Fig. 01 24 de abril, Dia Internacional do Milho - Ourofino Agrociência